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O que Oscar Niemeyer e ONU têm em Comum?

Oscar Niemeyer, um dos maiores nomes da arquitetura mundial, desempenhou um papel crucial na concepção da sede das Nações Unidas em Nova York. O projeto, realizado em 1947, não apenas destacou a genialidade de Niemeyer, mas também revelou sua habilidade em colaborar, sua generosidade e seu profundo comprometimento com a arquitetura como expressão artística e funcional.

O Convite e o Encontro com Le Corbusier

Niemeyer foi convidado por Wallace Harrison a integrar a equipe de arquitetos responsáveis por elaborar os projetos para a sede da ONU. Este foi um momento especial para o arquiteto brasileiro, que via nesta oportunidade a chance de contribuir em uma escala global. Em seu relato sobre aqueles dias, Niemeyer detalha o encontro com o icônico arquiteto Le Corbusier, que, já enfrentando críticas a respeito de seu projeto, pediu ajuda a Niemeyer.

Arquitetos reunidos para projetar a Sede das Nações Unidas. Imagem extraída do documentário – título original: A Workshop for Peace: The Creation of the United Nations Headquarters. 2005, UN/Peter Rosen Prod.

Dos primeiros momentos de sua estadia em Nova York, surge uma imagem marcante: em meio ao frio intenso da cidade, Le Corbusier se mostra solícito, cobrindo Niemeyer com seu casaco e iniciando uma relação de trabalho e respeito mútuo. Mais tarde, Le Corbusier o convida para colaborar no desenvolvimento de seu projeto inicial, colocando o arquiteto brasileiro à prova.

A Coragem e a Visão do Projeto Niemeyer

Embora Niemeyer inicialmente tenha oferecido auxílio a Le Corbusier, Harrison lembrou que o convite à equipe não era para trabalhar em conjunto naquele momento específico, mas sim para que cada arquiteto apresentasse sua própria visão. Niemeyer aceitou o desafio e, em apenas uma semana, desenvolveu um estudo próprio que revolucionaria as diretrizes propostas.

Em sua concepção, Niemeyer reorganizou os espaços de forma estratégica: separou o bloco extenso e baixo dos Conselhos e o posicionou próximo ao rio, enquanto a Grande Assembleia foi colocada em outro extremo do terreno. Essa mudança não apenas reorganizou a funcionalidade dos espaços, mas também criou a Praça das Nações Unidas, uma área aberta que conferia dignidade e monumentalidade ao local.

Sua apresentação surpreendeu. Muitos preferiram seu conceito, inclusive Budiansky, colaborador de Le Corbusier, que afirmou: “Você fez melhor que Le Corbusier!”. Após examinar o projeto, o próprio Le Corbusier admitiu: “É um projeto elegante!”

Um Momento de Decisão

Quando o projeto de Niemeyer foi aceito por unanimidade pela Comissão de Arquitetos, parecia que a questão estava definida. No entanto, Le Corbusier, posteriormente, sugeriu a Niemeyer uma modificação: mover a Grande Assembleia para o centro do terreno. Embora a ideia contrariasse a visão inicial de Niemeyer, que prezava pela integridade da Praça das Nações Unidas, ele acabou cedendo. Essa decisão resultou em um novo estudo, o projeto 23-32, que combinava elementos dos dois arquitetos.

A decisão não agradou a Wallace Harrison, que havia aprovado o projeto original de Niemeyer, mas o evento reafirmou o que ele próprio definiu como um trabalho de equipe. Niemeyer demonstrou generosidade e maturidade ao colaborar com Le Corbusier, mesmo após ter sua proposta inicial aprovada.

O Resultado: Uma Obra de Equipe

Apesar das alterações feitas ao longo do processo, Niemeyer reconhecia o projeto final como um esforço conjunto da equipe de arquitetos. Ele fazia questão de salientar o papel de Wallace Harrison, Abramovitz e outros colaboradores na conclusão do edifício. Contudo, a essência de sua visão — os volumes, a disposição dos espaços livres e a monumentalidade — permaneceu intacta.

Le Corbusier, por sua vez, nunca comentou ou reconheceu publicamente a importância do projeto 23-32. Porém, anos depois, durante um almoço em seu apartamento, fez um comentário que ficou gravado na memória de Niemeyer: “Você é generoso.”

Essa única frase sintetiza um momento de reconhecimento tardio, mas sincero, demonstrando o impacto da contribuição de Niemeyer não apenas do ponto de vista arquitetônico, mas também humano.

O Legado Duradouro

A sede da ONU em Nova York é, até hoje, um marco na arquitetura e um símbolo de cooperação internacional. A participação de Oscar Niemeyer no projeto reflete sua capacidade única de integrar elementos artísticos, funcionais e humanos em suas obras. Assim como em outros projetos icônicos de sua carreira, ele demonstrou que a arquitetura vai além de edifícios e formas: ela é um meio para promover a harmonia, a integração e os valores universais.

A história da sede da ONU não é apenas a narrativa de um edifício, mas também uma lição de trabalho colaborativo, de diálogo entre egos criativos, e, acima de tudo, de generosidade. Oscar Niemeyer, com sua visão e humildade, deixou um legado que transcende a arquitetura, inspirando futuras gerações a projetar com propósito, arte e coração.

Assista ao documentário sobre a edificação que abriga a sede das Nações Unidas em Nova York. Ele conta com entrevistas de historiadores, discute a seleção do projeto e apresenta imagens do início da construção. Destaque para a entrevista com Oscar Niemeyer (imagem da capa), o único arquiteto brasileiro entre os 11 que integraram o projeto.

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